(Originalmente publicado no blog Escreva Lola Escreva)
Quando eu era mais novinho, eu pedia muito para que as fotos que tirassem de mim não focassem na cadeira de rodas. O motivo já não sei mais com tanta certeza. Talvez mera vergonha, receio de não ser aceito.
Sei que posto demais, besteiras demais, coisas pouco interessantes a quem usa a internet como entretenimento. Mas eu passei a usar meus perfis como plataforma para ser ouvido pelos amigos. Imagine uma vida toda praticamente dizendo só coisas que não fazem as pessoas desconfortáveis. Mas um dia recebi aquele clique e acordei. Esse sou eu, esse é o meu corpo disfuncional e eu sou muito feliz com ele. Foi com ele que fiz 18 anos ininterruptos de fisioterapia iniciado aos meses de idade; foi com ele que descobri a puberdade e como eu sou uma pessoa única e por isso venho até agora aprendendo a me valorizar; foi para ele que me libertei da eterna perspectiva de cura que me rondava.
Meu corpo faz de mim quem eu sou, minha voz cantada e aguda, de Xuxa, meu cérebro tem uma manchinha do tamanho de uma ervilha que me impediu de deambular, mas que não me segurou de pensar. E olha, eu tenho cada pensamento… Adoro filosofar.
E você me pergunta: o que posso fazer para ajudar? É na verdade bem simples. Se for me elogiar, não me elogie pela superação, elogie por algum outro motivo, como a minha capacidade de ler no escuro, meu corpo, minha bunda bonita (amo!!!). Me elogie como você elogiaria qualquer pessoa. Se eu te paquero, não me veja com olhares de pena, se você está interessado, fique como ficaria com qualquer um. Se não está, diga. É menos pior.
A gente sabe quando seu olhar e tom de voz dizem que não quer bancar o enfermeiro. Eu não preciso, mesmo… me elogie pela vastidão da minha formação e conhecimento, mas não por tê-los acima da média para uma pessoa especial. Aliás, não nos chamem de especiais. Cada um o é para a mãe. Nem diga que temos ou portamos necessidades especiais. Porque isso todo mundo tem, mas deficiência não. O que você pode não ter é aptidão ou caráter. E isso eu tento ter. Quem tem caráter também respeita nossa posição nas filas, nossas vagas no estacionamento, porque a gente também é gente.