Começo dizendo que não tenho pretensão de ser crítico de cinema. Mas posso falar sobre narrativa com alguma confiança. Então é disso que eu vou falar.
Não assista aos dois longas A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais caso esteja buscando pela verdade. Não espere que o filme te dê a catarse que acredita que o caso mereça. Todos ficamos chocados com o caso, óbvio, mas digo que a verdade, como narrativa, é superestimada. Tendo dito isso, a gente deve ressaltar alguns pontos.
Não existe uma ordem que você deva seguir para assistir aos filmes, longamente alardeados pela plataforma Prime Video, mas há uma lógica: a dos depoimentos de 17 de julho de 2006, quase quatro anos depois do crime. Os discursos, muito bem articulados pelas respectivas defesas, beiram o infanto-juvenil, uma vez que não se tratam da verdade, mas das versões que eles gostariam que fossem a verdade.
Ambas têm uma demarcação muito clara do papel social das famílias, que antagonizam em seus universos e dão vazão a duas figuras muito caricatas: a de Suzane, que alterna entre uma feminilidade pueril, quase casta, e um feminino fatal de tragédia grega; e de Daniel, ora um rapaz pobre, sedutor e interesseiro, ora submisso e quase apenas um cúmplice do que de mais vil o humano pode fazer. De tal modo, por mais que uma das versões recorra menos ao esdrúxulo, e de fato o faz, é muito difícil que um esteja mentindo menos que o outro. Talvez encontremos a verdade no meio das duas versões, talvez não.
De fato aqui temos dois: Andreas (o irmão de Suzane) é de novo apagado e negligenciado, e o crime não foi ficção. E talvez o filme fosse mais maduro não fosse todo o embargo que o cinema nacional fora do eixo Globo Filmes sofre. É tudo sempre um “se”…